Frei Beto & a Religião II

Texto de Mauricio Pássaro - O título é um trocadilho com o nome do famoso livro escrito por Frei Betto – Fidel & a Religião – sucesso de vendas na década de oitenta. O frei completa oitenta e oito anos de idade, em 2015. Curiosamente, se multiplicada por milhões, vai dar a conta do rombo dos escândalos da Petrobrás. Por enquanto.

Não quero com isso dizer que ele esteja envolvido, embora, muitos de seus amigos, quiçá todos, estejam. Muitos foram presos no caso do Mensalão. Em sua badalada lista das 13 razões para reeleger Dilma, o escritor refere-se aos malfeitos do PT como sendo apenas “mazelas e contradições”. Ora, a conta dos 88 bilhões de reais, a sangria inestancável dos escândalos, os indícios mais que fortes e suficientes de fraude eleitoral via SMARTMATIC, tudo isso deve exprimir algo mais que simples mazela e contradição. Aliás, pela cartilha ideologicamente rezada, mazela e contradição costumavam ser as chagas do capitalismo, do velho sistema diabólico. Raciocinando assim, vivemos um regime ainda mais contraditório porque se contradiz (sic!) ao dizer que somente o capitalismo se contradizia. Há contradição maior do que o maior assalto à República ser comandado pelo partido da ética, que se elegeu denunciando a corrupção?

Isso me faz refletir que quem está no poder há quatro mandatos sustenta-se já sobre uma tradição. O marketing do PT para conservar a todo custo as “conquistas sociais” só depõe contra si mesmo: é na verdade um partido conservador. Quem é o conservador? Ora, aquele que conserva. Isso é bom ou ruim? Depende do que se esteja conservando e para quem. A mesma coisa quanto à mentalidade transformadora revolucionária. Boa ou ruim? Depende. Para onde levará a “transformação”? Imagine que esses partidos que estão no poder há quatro eleições resolvessem ser honestos e democráticos. Só isso não seria uma revolução?

Votei nesse engodo até o ano 2000, quando pra mim esse mundo acabou. Percebi que não se fazia transformação econômica nenhuma, o capital ficava intocado. Muito pelo contrário, as esquerdas se refastelam em dinheiro. Antigamente, o militante tirava dinheiro do próprio bolso para comprar bandeiras e sair à rua. Hoje são pagos, bem pagos. Se lhes faltar pagamento, acaba a militância. E fui observando uma fome insaciável desses grupos por transformações culturais. A mudança que implementavam era cultural, não econômica. Por quê?

Fiquei martelando isso, até um dia em que fui entender que eles aplicam a estratégia de Gramsci. Esse intelectual italiano inverteu a tática do marxismo clássico, que apregoava a transformação primeira da economia para depois efetivar a mudança das estruturas e instituições, como a família. Revoluciona-se a economia, e a família acaba, e uma vez extinta, o patrimônio e a herança ficariam nas mãos do Estado. Gramsci pensou o contrário: “transformemos as instituições e a economia será tomada ao fim”.

Isso explica muita coisa. O empenho, por exemplo, em acabar com a família cristã – aquela consolidada pelo apóstolo Paulo, em suas cartas, que faz lembrar o milenar e insuperável ying yang. Frei Betto acredita que família seja uma “construção cultural”. Dependendo da cultura que vigore, ela se constituirá de uma forma. Por que não duas mulheres com três homens, ou cinco com oito? A “transformação” não pode parar: por que não se institucionalizar a pedofilia, arrumando-se mais um nome bonitinho? Por que não casar um menino com um homem adulto, ou uma menina com uma lésbica? Sei lá, muitas variações são possíveis. A cultura. Já se tem notícia, no estrangeiro, de gente (gente?) propondo casamento com animais (zoofilia). Ora, por que não? Não seria, como disse um despacho de uma juíza, um “ninho multicomposto”? É claro que isso reflete um relativismo pervertido. O relativismo precisa ser relativizado. Se se tornar absoluto, deixa de ser relativo, claro.

Não é questão de preconceito. Apenas o trabalho para se garantir cada coisa no seu lugar. Que o Estado cuide da economia; da educação e da religião cuidem as famílias. Famílias são minorias, respeitem-se as minorias.

O estado brasileiro pode ser laico, mas a população não. Ela tem sua identidade cristã, seu fundamento civilizacional. Aos trancos e barrancos, quer se aceite ou não, mas foi o cristianismo que despontou historicamente com os alicerces de nossa sociedade.

No fundo, o que se trava é uma batalha espiritual. Uma onda sorrateira de secularidade para solapar a mensagem cristã. Mas, nada do que o próprio Cristo já não nos tenha alertado, e mesmo os antigos profetas. Há no Apocalipse um momento em que quatro selos são abertos, e surgem quatro cavaleiros montados em quatro cavalos.

Um deles, de cor vermelha.





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