ÔNIBUS DE GRAÇA - O milagre da geração espontânea

Maurício Pássaro - Você acorda, e lá estão eles: os ônibus de graça. Você entra e não paga, é de graça. Você acha graça. Apareceu do nada, suas moléculas colidiram aleatoriamente formando o motor, o chassi e a lataria, nessa ordem. Um milagre.

Não houve processo de fabricação. Custo zero. E o motorista? Trabalha de graça. Sua consciência revolucionária determina o sacrifício. E também os encarregados pela manutenção, pela guarda na garagem, todos trabalhando gratuitamente para você.

A cor dos veículos apareceu igualmente do nada: é vermelha. Coincidiu com a cor da bandeira do partido! Um vermelho bem forte, usado nas redes de fast food para induzir mais fome no cliente, por via subliminar. E o passageiro mata a sua fome por serviços 0800. E na hora de apertar o botãozinho da urna, em vez de no eleitor dar aquele “branco”, a memória volta e dá aquele “vermelho”.

Assim como os shows na praça e a internet, tudo de graça. Artistas consagrados chegam à conclusão de que devem doar shows para a prefeitura. Em nome da revolução, é claro. O sonho da população é ver um show do Chico, e todos torcem para que ele saia de sua residência, em Cuba, quer dizer, em Paris, e venha dar uma canjinha.

Provedores de Internet aderiram à causa e também dispensam o pagamento pelos serviços. E a Ampla, pela energia. E a Cedae, pela água fornecida. Uma maravilha. Tanta coisa de graça, que chega a ser engraçado.

É mesmo bom que tudo isso seja de graça, pois o poder público pode assim economizar divisas para aplicá-las em áreas cruciais, como a saúde, a educação e a segurança pública, na parte que cabe ao município. Você não é bem atendido no posto de saúde? Seus filhos não são bem formados na escola? E na cidade, não é verdade que faz tempo que não há roubo, nem assalto? Nem sequestro, nem estupro? Então. É porque você contribui pagando impostos.

E é óbvio que os ônibus não serão usados para carregar militantes políticos, em épocas eleitorais.

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