O VOTO DA CLASSE MÉDIA - A crise da representação

Maurício Pássaro - Li no Ancelmo Gois um curioso comentário. Nas suas próprias palavras: “Antigamente, a gente, da classe média, pedia aos porteiros (do prédio) que votassem no PT. Agora é o contrário”.

Há dois sentidos na declaração. O ex-ministro quer dizer que agora é o porteiro que faz a propaganda do PT aos moradores do prédio, pois agora os “trabalhadores” teriam consciência de classe, etc. Uma suposta evolução social.

Mas, há outro sentido no comentário, que talvez tenha passado desapercebido pelo próprio Minc. O “Agora é o contrário” pode significar que hoje os mesmos moradores de classe média aconselham a seus porteiros, em política, a tomarem uma outra direção. A classe média estará pedindo agora para o porteiro votar em Aécio? Ora, se o porteiro se beneficiou com os governos petistas, se saiu da pobreza, e agora é classe média, não cabe mais ele votar em Dilma, pois esta representa os pobres.

Por que isso? Ora, o PT chegou ao poder com o voto da classe média, funcionários públicos, pequenos e médios empresários e profissionais liberais. A propaganda original do PT falava em socializar o grande capital, estatizar o sistema financeiro e fazer a reforma agrária. Uma vez no poder, porém, mudou sua mira para a classe média. A intelligentsia petista alertou, em algum momento, seus comissários: o voto da classe média não é mais imprescindível. Em troca, o voto garroteado pelas bolsas assistencialistas nos bolsões da miséria, que nunca deixaram de existir pelo país. A conversa de que o país “saiu do mapa da miséria” é marketing, assim como os trinta e seis milhões que saíram da linha de pobreza. A ONU chancela? E daí? Que peso tem a ONU hoje em dia...?

PT mentiu e traiu. Mentiu porque sua propaganda histórica explícita era a de redistribuir a renda concentrada do grande capital, e quanto a isso nada foi feito. Ao contrário. PT recebe doações milionárias do setor financeiro, petistas montam firmas de consultoria e enriquecem, a exemplo de sua figura maior, o ex-operário e ex-presidente Lula. A nova fórmula desse “novo” PT é a seguinte: ficar amigo dos ricos, administrar os votos dos beneficiários de programas e arrochar as contas da classe média. O dinheiro para realizar a propalada redistribuição de renda tem de vir de algum lugar, e esse lugar não são mais as fortunas da burguesia, nem a mais-valia dos patrões. Esse lugar agora é a poupança da classe média.

Carlos Minc talvez não tenha percebido a extensão de seu comentário sobre o porteiro do prédio. Interessante isso. Observo que muitos amigos meus se embaraçam na hora de se reconhecerem como partícipes da classe média. São jornalistas, funcionários públicos, estudantes e profissionais liberais que têm salário visivelmente diferenciado, que ainda raciocinam como se estivessem em 1989.

Se você fatura mensalmente mais que R$ 1.091,00, você é considerado classe alta, segundo a nova tabela de classificação econômica. Considerando a tabela, o número da elite aumenta: basta você receber mais de três salários mínimos e você fará parte da elite – prepare-se para o ano que vem. Desapropriação direta de bens pela força bruta? Não, você não verá mais isso. Mas, sua renda pode ser alcançada por outros meios – por mais aumento de impostos, por exemplo. Ou quando não se fazem escolas e hospitais públicos decentes, obrigando a classe média a procurar escolas privadas e clínicas particulares. O sequestro da poupança da classe média que Collor promoveu é coisa de amador perto dessa nova turma apeada ao poder.

Há um número expressivo de eleitores de classe média que está tolhido de se pronunciar, devido ao ranço ideológico que ficou daquela época em que PT era o partido da ética e da moral, inimigo de Collor, Sarney e Maluf. Esses eleitores até gostariam de votar em Aécio, como resposta a essa traição classista, mas seus ouvidos foram acostumados a ouvir que PSDB é de “direita”, mesmo o PT abrigando os quadros mais retrógrados da política nacional em seu palanque de campanha. Sentem medo de serem estigmatizados como “de direita”. Mas, como assim? Maluf, Collor e Sarney são de “esquerda”?

O “avanço” que Dilma quer fazer a partir do ano que vem, o slogan “A mudança tem que continuar”, pode significar um alarme. Para aumentar a redistribuição de renda, sem mexer no grande capital, PT terá que aumentar a mordida sobre a classe “alta” – quem recebe mais de R$ 1.091,00. Se você está nesse grupo, pense bem na hora do voto, no dia 26, para não amargar mais tarde.

E pergunte a si mesmo: “PT governa para quem?” Repare que em alguns momentos, o partido diz que é um GOVERNO PARA TODOS. Em outra hora, que é um GOVERNO PARA OS MAIS POBRES. Afinal, um governo para quem? Se fosse um governo para todos, não sacrificaria a antiga classe média, que é remanescente.

Já fui filiado do PT, em 1989, tirei dinheiro do bolso para comprar bandeira e camisa e ajudar na campanha. Trabalho numa prefeitura administrada (aparelhada) pelo partido e acompanho há anos o seu modus operandi (ligações com José Dirceu). Acho que tenho alguma noção do que estou falando aqui. E conheço todos os truques da patrulha ideológica – as expressões que servem para tachar o cidadão de reacionário e conservador, quando ele ousa questionar. No Brasil, basta você falar bem da família cristã, da classe média e das garantias individuais para ser xingado de fascista.

Agora, é o contrário. Vote em quem te representa realmente e ponto final. Se você se sente beneficiado pelo PT, representado por Maluf, Collor e Sarney, vote em Dilma. Se não, não vote. É muito simples.

Carlos Minc deve estar preocupado. Os porteiros, conforme a propaganda eleitoral, devem estar ganhando muito bem com o governo Dilma, não temos inflação nem desemprego. Ganham tão bem, que deixam assim a linha da pobreza e adentram a classe média. E como classemedianos, para serem representados com propriedade, precisam agora votar em Aécio.





Comentários

  1. A classe média que o Aécio representa não é a classe média (dos pobres que vc citou, que ganham mais de mil reais), nem a "classe média-média", que ganha expressivamente mais que isso. Essa classe média que vc citou se há de se eleger um representante é o PT da Dilma e isso qualquer pobre e assalariado tem consciência.
    A classe média que o Aécio representa é a classe média dos ricos, burgueses, o foco não é o trabalhador e sim o empresário, ou seja tudo pelo lucro e legitimado pelas leis já que uma vez no poder pode-se controlar muita coisa, inclusive as leis ao seu bel prazer.
    Ressalto: o tipo de empresário que eu cito que Aécio favorece não é o da micro-empresa e média empresa, que temos em massa em Maricá e Itaipuaçu, que através do governo do PT tem a vida facilitada com unhas e dentes pelo governo Dilma, apesar das dificuldades, que inclusive fazem parte da vida e servem de mola propulsora para o crescimento de um ser humano e uma nação.
    Quanto a corrupção tão questionada no governo do PT, o governo Dilma criou órgãos para apurar e punir os corruptos. Que polítco faria isso? O PT fez, deu a cara a tapa, além disso corrupção teve no governo do Collor, do Fernando Henrique e tantos outros governos, infelizmente a corrupçao é algo histórico e que deve ser combatido, é claro, mas não sejamos hipócritas, afinal com o Aécio não será diferente.
    Tantos opositores criticam a reeleição como se fosse algo ditatorial, sendo que foi o próprio Fernando Henrique, do Aécio, que criou uma lei que permitia a reeleição para ele próprio se reeleger.
    O pobre não deve cuspir no prato que comeu, se ele hj tem poder de compra, se ele hj tem filhos em faculdades públicas (governo de inclusão do PT), se ele hj pode ter a casa própria (pelo Minha Casa Minha Vida, proporcionado pelo PT), se hj ele tem o Crédito facilitado (possibilitado pelo governo do PT), se hj mais de 50 milhões foram resgatados da fome e da pobreza extrema é graças ao governo do PT, se hj o pobre tem poder de compra é graças ao governo do PT, e não venha me dizer que tudo começo com o Plano Real com o Fernando Henrique, afinal a moeda pode ter começado a ser fortalecida a partir dali, mas para favorecer os ricos e o PT fez com que a moeda tbm favorecesse os pobres.
    Penso que numa sociedade mais igualitária a probabilidade do meu carro ser roubado, meu aparelho celular, minha casa, a minha vida é mais difícil, apesar da possibilidade ser grande e isso existe em qualquer governo. Não sejamos egoístas, afinal todos tem direito a um lugar ao sol, hj existe muito emprego, as pessoas comem, trabalham, tem sonhos e perspectivas de um futuro melhor, e pelo menos por causa da fome ou falta de emprego não vão matar pessoas inocentes.
    Não sejamos egoístas, afinal o povo tem sim direito a uma remuneração de qualidade pelo seu trabalho e os empresários grandes tbm deveriam estar dando graças a Deus pela prosperidade dos seus negócios pelo poder que hj o povo tem, povo este que vc chama de classe média, mas que sabe e tem consciência que apesar do poder de compra continua sendo povo e por isso a maioria destes votam na Dilma, no PT. É como uma relação de pais e filhos e não tou falando de esmolas ou de um estado babá, estou falando de amor, cumplicidade, sinceridade e a sensação de sentir-se abraçado. Sonho com um país melhor. Sim, eu voto na Dilma, eu voto no PT.

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  2. Este anônimo que está comentando deve está ganhando muito bem para querer que continue do mesmo jeito.

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  3. Para estar muito satisfeito com o governo da ''DILMA", ... quem sabe...?
    talvez seja um dos beneficiários das maracutaias da petrobras....Já pensou se ""DILMA"" perde a eleição, e isso vem a ser investigado a fundo. Caso ela seja reeleita, irá nomear no decorrer do mandato mais algum Ministro do Supremo Tribunal, e aí com mais ministros vínculados a ""DILMA"" essa investigação vai acabar em nada quando depois de muitos recursos o julgamento lá chegar. Só DEUS arriscaria um palpite.

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  4. A empregada lá de casa insistiu que eu assinasse a carteira de trabalho. No segundo mês de carteira assinada, ela pediu demissão. Explico: Assim que se recolhe o INSS através da Guia da Previdência Social, o Bolsa Família é cortado. Ou seja, ela prefere ficar em casa recebendo a esmola do governo a ter direitos trabalhistas e sociais de um trabalhador formal. Esta é a "revolução social apregoada pelo "partido dos trabalhadores". Até a denominação do partido é uma contradição.

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