Maurício Pássaro - A entrada de Marina no jogo das eleições e sua surpreendente aceitação numa faixa importante do eleitorado apareceram para satisfazer a demanda, a necessidade de uma "nova" política, um novo jeito de se fazer política. Surge como alternativa à polarização entre PT e PSDB.
Marina tenta deixar a marca da diferenciação. Depois de sua experiência no PV e no PT, a ex-seringueira e ex-senadora resolve criar um "partido" denominado Rede Sustentabilidade ou simplesmente Rede. Poderia tê-lo chamado de PRS - Partido da Rede Sustentabilidade - mas, preferiu não adicionar essa palavrinha que já está bem batida. Enquanto "partido" está ligado ao sentido de "parte", de "divisão", "Rede" informa sobre uma totalidade, uma integração. A Internet é a rede (net) de computadores integrados mundialmente.
Foi defendendo os povos da floresta amazônica, nos idos de 1984, que Marina desenvolveu, junto a Chico Mendes, o conceito de florestania. Traduzindo, seria a "cidadania dos povos da floresta". Sua sacação é perspicaz: "cidadania" tornou-se um termo vago, vulgarizado, muito usado especialmente nesses tempos eleitorais, onde fica bonito na fita o candidato encher a boca para falar que "o povo precisa de cidadania", que os direitos do "cidadão" são sistematicamente a ele negados. O neologismo que se refere à floresta retira da "cidade" a sua vocação em ser um grande polo referencial. Todo brasileiro tem direito à "cidadania", a ser "cidadão", que não é só um direito, mas se tornou historicamente uma obrigação. Somos obrigados aceitar o modo de vida das cidades, a vida urbanizada, o excesso de asfalto, cimento, fibra, plástico, metal, fumaça e, por conseguinte, todo o prejuízo ambiental advindo no pacote do "progresso". Marina quis pensar em algo diferente da cidadania, assim como diz pensar em algo distinto de política.
Até 1970, 70% da população brasileira viviam nos campos, e o restante, nas cidades urbanizadas, capitais e metrópoles. De lá pra cá, um pouco mais de quatro décadas, a estatística inverteu-se: quase 80% da população vivem nas cidades, e o resto no campo, na floresta, em áreas rurais. Você acha que essa inversão não traz consequências ao meio ambiente? Pensa que a natureza não se ressente do impacto e dará uma resposta, depois de séculos vivendo de um jeito?
Em 2015, Paris sediará a Conferência Mundial do Clima. As projeções climáticas, para um futuro próximo, não são nada alvissareiras, para não chamá-las de apocalípticas. Não se cumpriu a agenda da ECO-92, quando os países vieram ao Rio de Janeiro tratar da sustentabilidade do mundo e assinar compromisso. O econômico, no mundo, tem falado mais alto que o ecológico. Eis a tragédia do "eco".
O mundo anda insustentável. O modelo de urbanização das cidades, as políticas de consumo e a filosofia consumista da Era industrial não mais se sustentam. A partir de 2050, se permanecer esse modelo insustentável, a humanidade precisará de dois planetas Terras para explorar recursos - e não será outro um dos principais motivos para as pesquisas espaciais. Para arrefecer o cinza metálico dessa onda antiga (trezentos anos de revolução industrial), tentou-se o vermelho das ideologias revolucionárias durante um bom tempo, que não funcionou porque focalizou no direito do cidadão (citizen), mantendo-se o padrão industrial, a urbanização desenfreada. O mundo está precisando se esverdear.
Fala-se agora de uma "nova" política. Só acreditarei que se trata de algo novo de verdade quando a nossa classe política se espelhar no presidente do Uruguai, José Mujica. Não pela sua agenda polêmica de legalização do plantio da maconha, do aborto até um ano de gravidez, da união homoafetiva. Mas, em função de sua postura quanto ao verdadeiro sentido de "representação". Como político, Mujica representa os uruguaios, é seu representante. Sendo pobre a maioria da população (4 milhões), a sua vida privada transcorre conforme. Uma honesta coerência. Vive numa pequena fazenda, nos arredores de Montevidéu, cria galinhas e cultiva hortas, dirige seu próprio carro - um fusquinha azul.
Só acreditarei em "nova" política, no Brasil, se os nossos políticos fizerem o mesmo, abrindo mão de 90% do salário, como faz o presidente do Uruguai, que doa o dinheiro aos necessitados. Um deputado federal, aqui, embolsa 170 mil reais por mês, juntando salário (26 mil), ajudas de custo, auxílio-moradia, verba de gabinete para 25 funcionários (78 mil), cotas telefônicas e postais, verbas indenizatórias de viagem, estada, alimentação, etc. Multiplique isso por 513, e aparecerá na tela a incrível cifra de R$ 1.046.520.000,00 (um bilhão, quarenta e seis milhões e quinhentos e vinte mil reais) por ano. Agora, junte todos os vereadores e prefeitos do país (5.600 cidades), os membros do Judiciário, e tente imaginar o quanto é gasto para se manter a "velha" política funcionando. Aproveite para adicionar também o gasto bilionário das campanhas políticas: 74 bilhões ou três Copas do Mundo padrão-Fifa. Dá para continuar sustentando algo assim? Até quando?
A única forma de o político promover uma "nova" política é mujicalizando-se. Fora disso, é a velha cantilena pra boi dormir, é a corrida pelo melhor emprego do mundo. E não importa o discurso, se o candidato tem estampa não-convencional, se é ecológico, se o partido não tem nome de partido. Se não copiar o Mujica, será apenas o mais do mesmo, o ressoar da velha política.
mauriciopassaro.blogspot.com.br
Marina tenta deixar a marca da diferenciação. Depois de sua experiência no PV e no PT, a ex-seringueira e ex-senadora resolve criar um "partido" denominado Rede Sustentabilidade ou simplesmente Rede. Poderia tê-lo chamado de PRS - Partido da Rede Sustentabilidade - mas, preferiu não adicionar essa palavrinha que já está bem batida. Enquanto "partido" está ligado ao sentido de "parte", de "divisão", "Rede" informa sobre uma totalidade, uma integração. A Internet é a rede (net) de computadores integrados mundialmente.
Foi defendendo os povos da floresta amazônica, nos idos de 1984, que Marina desenvolveu, junto a Chico Mendes, o conceito de florestania. Traduzindo, seria a "cidadania dos povos da floresta". Sua sacação é perspicaz: "cidadania" tornou-se um termo vago, vulgarizado, muito usado especialmente nesses tempos eleitorais, onde fica bonito na fita o candidato encher a boca para falar que "o povo precisa de cidadania", que os direitos do "cidadão" são sistematicamente a ele negados. O neologismo que se refere à floresta retira da "cidade" a sua vocação em ser um grande polo referencial. Todo brasileiro tem direito à "cidadania", a ser "cidadão", que não é só um direito, mas se tornou historicamente uma obrigação. Somos obrigados aceitar o modo de vida das cidades, a vida urbanizada, o excesso de asfalto, cimento, fibra, plástico, metal, fumaça e, por conseguinte, todo o prejuízo ambiental advindo no pacote do "progresso". Marina quis pensar em algo diferente da cidadania, assim como diz pensar em algo distinto de política.
Até 1970, 70% da população brasileira viviam nos campos, e o restante, nas cidades urbanizadas, capitais e metrópoles. De lá pra cá, um pouco mais de quatro décadas, a estatística inverteu-se: quase 80% da população vivem nas cidades, e o resto no campo, na floresta, em áreas rurais. Você acha que essa inversão não traz consequências ao meio ambiente? Pensa que a natureza não se ressente do impacto e dará uma resposta, depois de séculos vivendo de um jeito?
Em 2015, Paris sediará a Conferência Mundial do Clima. As projeções climáticas, para um futuro próximo, não são nada alvissareiras, para não chamá-las de apocalípticas. Não se cumpriu a agenda da ECO-92, quando os países vieram ao Rio de Janeiro tratar da sustentabilidade do mundo e assinar compromisso. O econômico, no mundo, tem falado mais alto que o ecológico. Eis a tragédia do "eco".
O mundo anda insustentável. O modelo de urbanização das cidades, as políticas de consumo e a filosofia consumista da Era industrial não mais se sustentam. A partir de 2050, se permanecer esse modelo insustentável, a humanidade precisará de dois planetas Terras para explorar recursos - e não será outro um dos principais motivos para as pesquisas espaciais. Para arrefecer o cinza metálico dessa onda antiga (trezentos anos de revolução industrial), tentou-se o vermelho das ideologias revolucionárias durante um bom tempo, que não funcionou porque focalizou no direito do cidadão (citizen), mantendo-se o padrão industrial, a urbanização desenfreada. O mundo está precisando se esverdear.
Fala-se agora de uma "nova" política. Só acreditarei que se trata de algo novo de verdade quando a nossa classe política se espelhar no presidente do Uruguai, José Mujica. Não pela sua agenda polêmica de legalização do plantio da maconha, do aborto até um ano de gravidez, da união homoafetiva. Mas, em função de sua postura quanto ao verdadeiro sentido de "representação". Como político, Mujica representa os uruguaios, é seu representante. Sendo pobre a maioria da população (4 milhões), a sua vida privada transcorre conforme. Uma honesta coerência. Vive numa pequena fazenda, nos arredores de Montevidéu, cria galinhas e cultiva hortas, dirige seu próprio carro - um fusquinha azul.
Só acreditarei em "nova" política, no Brasil, se os nossos políticos fizerem o mesmo, abrindo mão de 90% do salário, como faz o presidente do Uruguai, que doa o dinheiro aos necessitados. Um deputado federal, aqui, embolsa 170 mil reais por mês, juntando salário (26 mil), ajudas de custo, auxílio-moradia, verba de gabinete para 25 funcionários (78 mil), cotas telefônicas e postais, verbas indenizatórias de viagem, estada, alimentação, etc. Multiplique isso por 513, e aparecerá na tela a incrível cifra de R$ 1.046.520.000,00 (um bilhão, quarenta e seis milhões e quinhentos e vinte mil reais) por ano. Agora, junte todos os vereadores e prefeitos do país (5.600 cidades), os membros do Judiciário, e tente imaginar o quanto é gasto para se manter a "velha" política funcionando. Aproveite para adicionar também o gasto bilionário das campanhas políticas: 74 bilhões ou três Copas do Mundo padrão-Fifa. Dá para continuar sustentando algo assim? Até quando?
A única forma de o político promover uma "nova" política é mujicalizando-se. Fora disso, é a velha cantilena pra boi dormir, é a corrida pelo melhor emprego do mundo. E não importa o discurso, se o candidato tem estampa não-convencional, se é ecológico, se o partido não tem nome de partido. Se não copiar o Mujica, será apenas o mais do mesmo, o ressoar da velha política.
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