Artigo :: Maurício Pássaro - Por que os candidatos a cargo público sorriem tanto? De que tanto riem? Não é uma estatística, mas uma unanimidade. Lá na foto: camadas de tinta na cara, olhos brilhantes, lábios esticados, cabelos ajeitados, pose de boa-pinta e gente boa. A ordem é ser otimista. Ou pelo menos parecer otimista.
Mais coerente seria uma fisionomia séria, sóbria, um rosto que carregasse o peso da culpa. Sim, a classe política não tem o que comemorar, e sua dívida social é o maior débito. A voz do povo é a voz de Deus? Não. É apenas a voz de uma maioria. Uma maioria também escolheu Barrabás, há dois mil anos e pouco. Elegeu Collor. Entronou Chavez, na Venezuela. Abriu as portas para o nazismo de Hitler, eleito num partido nacional-socialista. Ok, ainda assim, errando, é melhor (menos pior) a Democracia, o sufrágio universal. Mas, daí a se legitimar a falsidade, a propaganda enganosa... O buraco é mais embaixo.
Candidatos posam como estivessem fazendo selfie na Disneylândia. Cadê, em suas faces, as rugas da realidade? Onde está a tinta escura da situação da saúde pública, da educação falida? Onde a expressão honesta que reflita a violência que grassa no cotidiano, suspensa estrategicamente nos eventos como a Eco-92, a Copa e as Olimpíadas? Não vemos os reflexos do PIB (muito pequeno para se ver) e da explosão (contida) inflacionária nos traços faciais desses pretendentes a cargo público, que desejam representar a mim e a você. Apenas aquele sorriso de que tudo anda bem e devemos pensar positivo, e se ainda não está bom, basta um voto neles e tudo mudará da água para o vinho. O Photoshop nunca trabalhou tanto como hoje.
O que há, na verdade, por trás de tantas caras sorridentes? A expectativa de ganhar o melhor emprego do mundo - o de ser político no Brasil e acumular regalias, salário privilegiado, benesses mil, fora o que vem por fora... O marketing do sorriso.
Chega a ser hilário ver candidatos que passam o ano de cara amarrada, correndo das câmeras e das denúncias, aparecerem de repente sorrindo, prometendo o paraíso na Terra.
A mentira por trás de um sorriso estampado como esse chama-se falsidade, fake, montagem, maquiagem. Aquela velha assertiva de que as aparências enganam parece sumir em época eleitoral. O candidato tem que se mostrar feliz, otimista, tranquilo, confiante - afinal ele é quase um mártir a sacrificar a sua vida privada em prol da coletividade. Não é lindo isso? Uma cara sisuda mostraria envelhecimento, coisa de ranzinza, pessimista, e a melhoria da vida coletiva precisa vir da juventude. A experiência, que se reflete em cabelos brancos e num currículo por vários lugares, dá lugar à pujança juvenil que apresentará uma novidade, nada mais que a solução. O velho discurso da modernidade, do moderno. Candidatos sem experiência alguma pleiteando cargos na Assembleia estadual e federal. Risível.
As aparências enganam. Mas, quanta gente que não se cansa de ser enganada!
mauricioblogspot.com.br
Mais coerente seria uma fisionomia séria, sóbria, um rosto que carregasse o peso da culpa. Sim, a classe política não tem o que comemorar, e sua dívida social é o maior débito. A voz do povo é a voz de Deus? Não. É apenas a voz de uma maioria. Uma maioria também escolheu Barrabás, há dois mil anos e pouco. Elegeu Collor. Entronou Chavez, na Venezuela. Abriu as portas para o nazismo de Hitler, eleito num partido nacional-socialista. Ok, ainda assim, errando, é melhor (menos pior) a Democracia, o sufrágio universal. Mas, daí a se legitimar a falsidade, a propaganda enganosa... O buraco é mais embaixo.
Candidatos posam como estivessem fazendo selfie na Disneylândia. Cadê, em suas faces, as rugas da realidade? Onde está a tinta escura da situação da saúde pública, da educação falida? Onde a expressão honesta que reflita a violência que grassa no cotidiano, suspensa estrategicamente nos eventos como a Eco-92, a Copa e as Olimpíadas? Não vemos os reflexos do PIB (muito pequeno para se ver) e da explosão (contida) inflacionária nos traços faciais desses pretendentes a cargo público, que desejam representar a mim e a você. Apenas aquele sorriso de que tudo anda bem e devemos pensar positivo, e se ainda não está bom, basta um voto neles e tudo mudará da água para o vinho. O Photoshop nunca trabalhou tanto como hoje.
O que há, na verdade, por trás de tantas caras sorridentes? A expectativa de ganhar o melhor emprego do mundo - o de ser político no Brasil e acumular regalias, salário privilegiado, benesses mil, fora o que vem por fora... O marketing do sorriso.
Chega a ser hilário ver candidatos que passam o ano de cara amarrada, correndo das câmeras e das denúncias, aparecerem de repente sorrindo, prometendo o paraíso na Terra.
A mentira por trás de um sorriso estampado como esse chama-se falsidade, fake, montagem, maquiagem. Aquela velha assertiva de que as aparências enganam parece sumir em época eleitoral. O candidato tem que se mostrar feliz, otimista, tranquilo, confiante - afinal ele é quase um mártir a sacrificar a sua vida privada em prol da coletividade. Não é lindo isso? Uma cara sisuda mostraria envelhecimento, coisa de ranzinza, pessimista, e a melhoria da vida coletiva precisa vir da juventude. A experiência, que se reflete em cabelos brancos e num currículo por vários lugares, dá lugar à pujança juvenil que apresentará uma novidade, nada mais que a solução. O velho discurso da modernidade, do moderno. Candidatos sem experiência alguma pleiteando cargos na Assembleia estadual e federal. Risível.
As aparências enganam. Mas, quanta gente que não se cansa de ser enganada!
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