A construção de um complexo portuário em área bem preservada do litoral fluminense opõe frequentadores e autoridades de Maricá

O polêmico empreendimento é igualmente monumental. Com um custo estimado em 5 bilhões de reais, ele tem relação direta com a descoberta de petróleo na camada pré-sal a 200 quilômetros da costa de Maricá. A escolha daquele ponto em Jaconé obedeceu também a outros fatores. Pesou a seu favor a localização do terreno, onde seu antigo proprietário, o empresário Roberto Marinho, mantinha um campo de golfe. Em lugar privilegiado, fica perto da capital do estado e a apenas 30 quilômetros do Comperj, complexo petroquímico da Petrobras que é erguido no município de Itaboraí. Outro aspecto positivo foi a profundidade do mar naquele canto: tem calado de 30 metros, o bastante para atracar grandes petroleiros. Dessa forma, quatro píeres foram planejados para receber navios de mais de 300 metros. O projeto está agora na etapa derradeira dos trâmites burocráticos. Falta a Câmara dos Vereadores aprovar a alteração do uso do solo de residencial para industrial e liberar 187 hectares protegidos por lei.
A julgar pela celeridade que tem marcado o processo de licenciamento, segundo alguns críticos, os últimos passos não devem ser problema. "Causa indignação ver que os órgãos fiscalizadores estão atuando como facilitadores", protesta a engenheira sanitarista e moradora da cidade Ana Paula Carvalho, destacando em sua reclamação tanto a Câmara local quanto o Instituto Estadual de Ambiente (Inea).
O receio de uma parcela de moradores, da qual ela faz parte, é que um complexo de tal dimensão desfigure completamente uma área ainda bem conservada da orla. "Pego onda ali desde os anos 80. Os surfistas de Niterói, Saquarema e até do Rio amam aquele lugar. Tinham de fazer um porto bem no meio daquele paraíso?", questiona o surfista Guilherme Herdy, que já competiu na elite mundial da modalidade. Por sua vez, a empresa responsável pelo empreendimento é taxativa quanto a seus efeitos. "Não enxergamos nenhuma alteração significativa", diz Mauro Scazufca, coordenador do estudo de impacto ambiental, revelando que no máximo 20% das rochas que fascinaram Darwin devem ser afetadas pela obra.
Se as autoridades enxergam no porto a fagulha que faltava para detonar a revitalização de um município que ficou um longo período sem perspectiva, os opositores do projeto temem que Maricá não esteja pronta para receber um empreendimento desse porte. Aliado à descoberta do pré-sal e à instalação do vizinho Comperj, o anúncio da construção do complexo contribuiu para que a população saltasse de 90 000 para cerca de 140 000 habitantes. O receio é que se repita por lá o processo de degradação urbana ocorrido em Macaé, que vem sofrendo com a favelização e o crescimento desordenado desde que se tornou uma das capitais brasileiras do petróleo em alto-mar. Tal qual aconteceu com a cidade do norte-fluminense, Maricá assiste à chegada de grandes redes de lanchonetes e lojas de departamentos. "A oferta de emprego é crescente. Muita gente já não precisa ficar indo ao Rio e voltando todos os dias para trabalhar", destaca Alessandro Terra, secretário municipal de Meio Ambiente. Atenta a uma boa possibilidade de negócio, a advogada Regina Carandina fez o caminho contrário: mudou-se recentemente de Copacabana para o Farol de Ponta Negra, um pedaço valorizado de Maricá. Ela investiu na reforma da pousada da família, onde espera acolher, num primeiro momento, engenheiros e outros trabalhadores envolvidos na construção do porto. "Maricá é o fim do mundo. Sou totalmente a favor do projeto, pois só assim a cidade poderá se desenvolver", diz ela. Entre o passado decadente e o futuro que periga sair do controle, Maricá busca o equilíbrio.
Fonte: Veja
Chama-se CRIME AMBIENTAL.
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