Adilson Pereira - O profeta Miquéias fez um diagnóstico da sociedade de
seu tempo. Dois mil e setecentos anos depois, os problemas de hoje parecem os
mesmos de outrora.
Os tempos
mudaram, mas o coração do homem não.
Os problemas que levaram a nação de Judá ao colapso, ainda hoje ameaçam uma pequena
civilização à beira da ruína. A classe política violentava os mais pobres,
tomando-lhes o que tinham de mais precioso: sua dignidade, em troca de ínfimos
favores. Eles faziam suas próprias leis, manipulando-as para que pudessem
locupletar-se delas e, ao mesmo tempo, escapar, porque se colocavam acima da
legislação por eles mesmos criada. Todo sistema sócio-político-econômico agia
em benefício de uma classe política aliada ao mal personificado.
A classe política de Judá se corrompera a tal ponto
que Miquéias os chamava de canibais, pois comiam a carne do povo, aborrecendo o
bem e amando o mal, agindo de forma draconiana, apenas para que pudessem
ostentar seu luxo nababesco. Uma classe política naufragada na imoralidade,
capitulada na sedução da riqueza ilícita. Miquéias os acusava de tomar decisões
por suborno.
A partir daí, vemos a generalizada decadência da
família, da estrutura familiar. As famílias não eram mais redutos de reserva
moral, mas verdadeiros campos de batalha. Os filhos desprezavam os pais, que
desprezavam as abominações dos filhos, e vice-versa. Maridos e esposas ao invés
de serem a contra-cultura numa sociedade decadente, era o espelho dessa
sociedade. O mal estava embutido no núcleo mais íntimo da classe política... A
família.
Líderes religiosos, “homens de Deus” que deveriam ser
como um facho de luz no meio da escuridão da idolatria a Mamon e a Belial,
assistiam a tudo de forma vil e degradante aos olhos de Deus. Em vez de eles
influenciarem o mundo, o mundo os influenciava, fomentados pelo fermento do
lucro. “Homens de Deus” que ensinavam por interesse, com a alma corrompida pela
ganância, fazendo-os cair nas teias insidiosas da apostasia.
O carnaval é a maior festa popular do Brasil, talvez
do mundo. Nesta festa de extravagância e excessos, muitos saem às ruas usando
máscaras. Outros, escondem-se atrás das máscaras da hipocrisia galopante da “teologia do eu próprio”. Outros ainda,
revelam-se por meio delas. Máscaras intangíveis, encobrindo seus fantasmas e
seus medos. Algumas encobrem o rosto, mas neste caso, tentam disfarçar as
atitudes da alma.
De certo modo, todos já usamos uma máscara. Aquele que
afirma nunca ter usado uma, acaba por afivelar uma ao próprio rosto, a da
mentira. Quando as usamos, os que nos cercam amam quem aparentamos ser, não
quem verdadeiramente somos. Mas, elas nunca serão firmes e seguras; por mais
que as apertem, caem nas horas mais impróprias, deixando seu usuário em
situação de total constrangimento.
A vida cristã é uma contínua remoção de máscaras. Mas,
os falsos profetas, “pseudo-homens de Deus”, comparados a sepulcros caiados
(limpos por fora, mas cheios de rapina por dentro), são grandes atores que
representam um papel diferente daquele desempenhado na vida real. Das duas
uma... Ou o dito “homem de Deus” está fora do plano de sua chamada ministerial,
ou Deus se enganou(?) redondamente ao chamá-lo para o ministério, quando
deveria apenas capacitá-lo para serviços relevantes num setor laico.
Cada um que fique na vocação para a qual foi chamado.
Um líder religioso enveredar-se pela política é desvio de função, é perda de
função, é não acreditar que Deus tem um projeto. Em síntese, é soberba, é
autossuficiência, é entristecer a Deus. E o preço é caríssimo. Basta ver o
estado de igrejas cujos pastores decidiram transformá-las em redutos e
plataformas eleitorais. É pura
decadência espiritual. É perder a
noção de distância que deve ser mantida entre o sagrado e o profano. O papel de
um pastor deveria ser muito superior a de um agente político, não subserviente
a ele.
Em tempo: Qualquer semelhança com Maricá é
mera coincidência!!!
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