Desta vez falaremos daquele que
citamos no capítulo anterior como o “menino João”. Este é nada mais, nada
menos, que o Sr João José de Carvalho, filho de Dona Adelaide, uma senhora que
ajudava no engenho de farinha. Nessa época, ambos moravam próximos à casa de
dona Miúda.
Quando Seu João começou a
trabalhar no armazém ainda era bem menino, dando início a uma parceria de mais
de 60 anos com Jacintho Luiz Caetano.
Ele fazia anotações nos cadernos
(contador da época) e anotava nas cadernetas de fiado, que não eram poucas, num
armazém onde era comum a troca de ovos de galinha por mercadorias (arroz,
açúcar,...), no melhor estilo de escambo.
Seu João, além de controlar as
mercadorias que chegavam e saíam, fiscalizava as peraltices dos filhos de
Jacintho, já que os mesmos nasceram e foram criados junto a ele, numa
cumplicidade e amizade ímpares. Era comum Seu João chamar a atenção das
traquinagens dos filhos de Jacintho de forma bem peculiar:
- “Ham, Ham, Ham... Diquê? Diquê? Diquê?”.
Com o tempo, os filhos de
Jacintho passaram a ajudar no armazém, sob supervisão de Seu João,
prestando-lhe contas de tudo o que havia sido feito.
Ao ficar noivo com Dona Sílvia,
Seu João foi presenteado por Jacintho com um armazém, com o objetivo de
ajudá-lo a construir sua independência e premiar a maneira leal e responsável
com que sempre exerceu o seu trabalho.
Seu João se casou com Dona Sílvia
e tiveram 4 filhas: Marli, Marlene, Marilda e Marilza, que mais tarde
escreveram: “Seu Jacintho, amigo dos mais
humildes, homem influente sem ser político, construiu uma fortuna condigna com
seu trabalho, tendo sempre ao lado o companheiro e confidente, nosso pai. Uma
parceria, uma sociedade, onde patrão outorgava plenos poderes de decisão ao
empregado, onde não havia vínculo empregatício formal, mas havia grande
amizade, confiança e respeito mútuo...”.
Ao assumir a nova caminhada,
separado do amigo de longas datas, Seu João adoeceu, tomado por profunda saudade.
Seu Jacintho, que certamente sentia a mesma falta do companheiro, o levou de
volta ao convívio mútuo. A amizade fraterna em nome do bem comum.
Em 1981, quando Seu Jacintho
adoeceu, Seu João também começou a sentir sinais de doença, que o vitimou em
1986, seis meses antes do falecimento de Seu Jacintho.
A escritora do livro em questão,
Maria do Amparo Caetano, faz o seguinte comentário: “Este fiel amigo e grande companheiro preferiu partir antes. Tenho
certeza de que, João, como sempre fazia, foi organizar e preparar tudo, junto a
Nossa Senhora, para a chegada de meu pai...”.
Nota: Fecho a série com esta alterosa e altissonante história
de amizade, como poucas já vistas, irradiando seu brilho e magnitude através dos
tempos, ultrapassando todos os limites da compreensão humana e transcendendo
até mesmo as atitudes mais mesquinhas provenientes de um vulgo anatídeo, com
sua mais que comprovada destrutividade nas ações e palavras.
Vale lembrar que uma das filhas
de Seu João é Dona Marilza, que tem por nome completo Marilza de Carvalho
Horta. Dona Marilza, juntamente com suas irmãs, “in memorian” de Dona Marli, terminam seus depoimentos da seguinte
forma: “... Reconhecidamente afirmamos
que a grande herança deixada pelo Sr. Jacintho e nosso pai foi a verdade, a
credibilidade, a amizade e o respeito mútuo. Muitas histórias são contadas e
todas falam de dois companheiros que fizeram uma linda história que mudou
significativamente a vida de nossa cidade. Sempre ouvimos de meu pai a seguinte
frase: ‘Palavra de Seu Jacintho vale mais que qualquer escritura’! Deus
concedeu muitos bens às famílias, mas o bem maior que nos foi deixado foi a
lição de que tudo se constrói através do AMOR, da confiança, da dedicação do
respeito e da honestidade...”.
Até onde podemos enxergar,
irmãos, cunhados, genros, filhos e netos, todos fazem parte desta herança de
fidalguia, generosidade, amor ao próximo, respeito, confiança e fidelidade.
Todos... Menos um. Um dos envolvidos neste belo roteiro de vida se omitiu de
forma estarrecedora aos olhos comuns, de forma vergonhosa aos conhecedores dos
fatos, mostrando total desapego e desamor à história de sua própria família,
frente à fatídica e bisonha cena de retaliação ao “busto terrorista”.
O vereador veterinário Fabiano
Horta, filho de Dona Marilza de Carvalho Horta, neto de Seu João José de
Carvalho, com os poderes de Presidente da Câmara de Vereadores de Maricá e o
status de amigo pessoal do Prefeito de Maricá, por respeito a sua própria
história, deveria ter se manifestado em contrariedade a todo este nefasto
acontecimento.
Diante da história de seu avô,
das palavras brilhantemente transcritas por sua mãe e tias, e em nome da
dignidade devida aos grandes nomes da história mundial, acreditávamos que sua
atitude seria completamente contrária à que tomou... Nenhuma! O cristão
verdadeiramente selado no Espírito Santo de Deus, deveria saber mais que
qualquer outro que, assim como a citação de sua família (... tudo se constrói através do amor...), que “o amor não se porta inconvenientemente,
não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor
não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” (1 Cor 13:5,6).
Comentários
Postar um comentário
ITAIPUAÇU SITE - MÍDIA LIVRE E OFICIAL DE NOTÍCIAS DE MARICÁ - O Itaipuaçu Site reserva o direito de não publicar comentários anônimos ou de conteúdo duvidoso. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a nossa opinião.