Marcelo Bessa / da série "O Diário de Rampion" - Meus filhos costumavam destruir os brinquedos que ganhavam. Um desejava transformar um caminhão num navio; outro queria examinar o mecanismo que fazia mexer as pernas de um boneco. Na verdade, nenhum brinquedo, por mais reforçado que fosse, durava mais que um mês.
O quarto dos meninos era um ferro-velho onde proliferavam aviões sem asa, carros sem roda, bolas murchas, soldadinhos de chumbo acéfalos, jogos desorganizados e muitas outras peças danificadas. Por isso, um dia, resolvi contar-lhes um fato que me acontecera quando eu tinha mais ou menos a idade deles na esperança de sensibilizá-los, a fim de que detivessem a fúria destruidora que os arrebatava. Relatei-lhes, às vezes até com a voz embargada de emoção, que certa vez suportara apertos e pisões de uma multidão desejosa de receber mantimentos e brinquedos, por ocasião do Natal num campinho de futebol próximo à minha casa . Depois de muito esforço - eu passara o dia todo espremido entre vários adultos - consegui alcançar o setor onde eram distribuídos brinquedos para as crianças, deixando finalmente para trás a massa ululante a qual, à medida que o tempo passava, mais se deixava levar pelo receio de que se encerrasse a qualquer momento a distribuição de víveres. Acerquei-me rapidamente da bancada onde misturavam-se bolas de futebol, carrinhos, bonecos, aviõezinhos, etc., a fim de receber o meu merecido presente. De repente, um homem calvo, vermelhão, de óculos, dirigindo-se a mim, gritava:
O quarto dos meninos era um ferro-velho onde proliferavam aviões sem asa, carros sem roda, bolas murchas, soldadinhos de chumbo acéfalos, jogos desorganizados e muitas outras peças danificadas. Por isso, um dia, resolvi contar-lhes um fato que me acontecera quando eu tinha mais ou menos a idade deles na esperança de sensibilizá-los, a fim de que detivessem a fúria destruidora que os arrebatava. Relatei-lhes, às vezes até com a voz embargada de emoção, que certa vez suportara apertos e pisões de uma multidão desejosa de receber mantimentos e brinquedos, por ocasião do Natal num campinho de futebol próximo à minha casa . Depois de muito esforço - eu passara o dia todo espremido entre vários adultos - consegui alcançar o setor onde eram distribuídos brinquedos para as crianças, deixando finalmente para trás a massa ululante a qual, à medida que o tempo passava, mais se deixava levar pelo receio de que se encerrasse a qualquer momento a distribuição de víveres. Acerquei-me rapidamente da bancada onde misturavam-se bolas de futebol, carrinhos, bonecos, aviõezinhos, etc., a fim de receber o meu merecido presente. De repente, um homem calvo, vermelhão, de óculos, dirigindo-se a mim, gritava:
- Tirem esse garoto daqui! Ele esteve aqui antes!
Incontinenti, alguém agarrou-me e pôs-me na rua. Confundiram-me certamente com outro menino que por ali passara antes de mim. Todo o meu esforço, durante horas seguidas para ganhar um mísero brinquedinho dera em nada. Uma grande injustiça!
Marcelo,
ResponderExcluirSeus contos são bem legais.
Amenizam a raiva causada pela frustração de tanta denúncia contra o corrúptos de Maricá terminarem em pizza.
Parabéns.
Obrigado!!!
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