Um conto de Marcelo Bessa
O ano era 1970. Rosane tinha 19 anos e Paulo, 20. Frequentavam a mesma Faculdade. Estavam no ponto de ônibus após as aulas, numa certa manhã de outono. Ela morava no Grajaú e ele, no Flamengo. Ela era liberal e ele, conservador. De repente ela virou-se para ele e começou a referir um assunto que muito a empolgava naquela época: igualdade sexual de homens e mulheres.
Perguntou-lhe sua opinião. Paulo, que, além de machista, tímido e ingênuo, e ainda estava apaixonado por ela, disse que não deve haver tal igualdade e que a mulher deve guardar-se para o futuro marido. Por seu turno, Rosane insiste e não concorda com ele. Paulo mantém seu ponto de vista. A partir dali ela afastou-se dele. Ele a viu, depois, pela última vez, no baile de formatura, acompanhada de um antigo namorado.
Passa-se o tempo. Paulo ficou ainda um ou dois anos pensando nela. Queria tanto vê-la, mas, orgulhoso, ou com medo de que ela não o recebesse bem, não a procurou.
Após muitos anos, sem atinar com a razão, Paulo rememorou a conversa que tiveram no ponto de ônibus e ficou-lhe a impressão de que ela queria fazer sexo com ele e que certamente já o fizera com o antigo namorado, aquele que a acompanhara no baile de formatura, de quem, aliás, não mais gostava, segundo lhe confessara certa ocasião.
Trinta anos depois, seja porque a história ficara inacabada ou por mero capricho, Paulo resolveu reencontrá-la. Algo lhe dizia que o tempo não fora impiedoso com ela, tanto quanto ele esperava, não houvesse sido com ele. Não conseguia imaginá-la muito diferente da imagem que os anos não conseguiram apagar do seu pensamento.
Na verdade, ele já tentara localizá-la algumas vezes, mas não tivera sucesso, porém não havia se empenhado muito. Mas, a partir da lembrança daquela conversa, resgatada de um passado distante, a sua curiosidade aumentou. Nessa época, auge do 'orkut', um site de relacionamentos muito acessado na internet, Paulo, que também era analista de sistemas e diretor de uma grande empresa ligada à área de informática, passava muitas horas do seu dia conectado na grande rede e, como ainda se lembrava do sobrenome de Rosane, dedicou-se a pesquisar, encontrando-a, finalmente.
Através de mensagens, logo à primeira troca de impressões, Paulo sentiu-se desconfortável: ela simplesmente não se lembrava dele. Porém, com o passar dos dias, trocaram contatos de celular e não demorou muito, resolveram se encontrar.
Quando se viram, Paulo constatou que o tempo de fato não fora demasiadamente duro com ela, a não ser por alguns sulcos no colo ocasionados pelo excesso de banho de sol. O sorriso ainda era o mesmo. Uma antiga falha na base de um dos dentes frontais dava-lhe o mesmo ar brejeiro de antigamente, um sorriso gostoso de se ver.
Foram almoçar num ótimo restaurante que ficava no centro da cidade, próximo ao Castelo. Num determinado momento, Paulo, apoiou o cotovelo na mesa e, segurando o queixo, disse:
- Rosane, você foi a deusa mitológica dos meus tempos de estudante!
Quando saíram, antes de entrarem no estacionamento, Paulo sentiu que Rosane puxou-lhe o braço e, quase num tom suplicante, pediu-lhe que segurasse sua mão. Lembrou-se, naquele instante, que nunca a tocara, que jamais lhe pusera as mãos.
Nos dias seguintes, Rosane enviou-lhe muitos emails com várias fotos suas, tiradas em diversas ocasiões, e com mensagens muito gentis.
Infelizmente, o coração de Paulo ficou frio.
Percebendo que ele não se sensibilizara, Rosane não mais o procurou.
Embora ela não tenha conseguido lembrar-se precisamente dele, sentira a mesma atração de outrora, enquanto ele, que nunca a esquecera, não pôde encontrar um vestígio sequer de ternura por ela no seu coração.
O ano era 1970. Rosane tinha 19 anos e Paulo, 20. Frequentavam a mesma Faculdade. Estavam no ponto de ônibus após as aulas, numa certa manhã de outono. Ela morava no Grajaú e ele, no Flamengo. Ela era liberal e ele, conservador. De repente ela virou-se para ele e começou a referir um assunto que muito a empolgava naquela época: igualdade sexual de homens e mulheres.
Perguntou-lhe sua opinião. Paulo, que, além de machista, tímido e ingênuo, e ainda estava apaixonado por ela, disse que não deve haver tal igualdade e que a mulher deve guardar-se para o futuro marido. Por seu turno, Rosane insiste e não concorda com ele. Paulo mantém seu ponto de vista. A partir dali ela afastou-se dele. Ele a viu, depois, pela última vez, no baile de formatura, acompanhada de um antigo namorado.
Passa-se o tempo. Paulo ficou ainda um ou dois anos pensando nela. Queria tanto vê-la, mas, orgulhoso, ou com medo de que ela não o recebesse bem, não a procurou.
Após muitos anos, sem atinar com a razão, Paulo rememorou a conversa que tiveram no ponto de ônibus e ficou-lhe a impressão de que ela queria fazer sexo com ele e que certamente já o fizera com o antigo namorado, aquele que a acompanhara no baile de formatura, de quem, aliás, não mais gostava, segundo lhe confessara certa ocasião.
Trinta anos depois, seja porque a história ficara inacabada ou por mero capricho, Paulo resolveu reencontrá-la. Algo lhe dizia que o tempo não fora impiedoso com ela, tanto quanto ele esperava, não houvesse sido com ele. Não conseguia imaginá-la muito diferente da imagem que os anos não conseguiram apagar do seu pensamento.
Na verdade, ele já tentara localizá-la algumas vezes, mas não tivera sucesso, porém não havia se empenhado muito. Mas, a partir da lembrança daquela conversa, resgatada de um passado distante, a sua curiosidade aumentou. Nessa época, auge do 'orkut', um site de relacionamentos muito acessado na internet, Paulo, que também era analista de sistemas e diretor de uma grande empresa ligada à área de informática, passava muitas horas do seu dia conectado na grande rede e, como ainda se lembrava do sobrenome de Rosane, dedicou-se a pesquisar, encontrando-a, finalmente.
Através de mensagens, logo à primeira troca de impressões, Paulo sentiu-se desconfortável: ela simplesmente não se lembrava dele. Porém, com o passar dos dias, trocaram contatos de celular e não demorou muito, resolveram se encontrar.
Quando se viram, Paulo constatou que o tempo de fato não fora demasiadamente duro com ela, a não ser por alguns sulcos no colo ocasionados pelo excesso de banho de sol. O sorriso ainda era o mesmo. Uma antiga falha na base de um dos dentes frontais dava-lhe o mesmo ar brejeiro de antigamente, um sorriso gostoso de se ver.
Foram almoçar num ótimo restaurante que ficava no centro da cidade, próximo ao Castelo. Num determinado momento, Paulo, apoiou o cotovelo na mesa e, segurando o queixo, disse:
- Rosane, você foi a deusa mitológica dos meus tempos de estudante!
Quando saíram, antes de entrarem no estacionamento, Paulo sentiu que Rosane puxou-lhe o braço e, quase num tom suplicante, pediu-lhe que segurasse sua mão. Lembrou-se, naquele instante, que nunca a tocara, que jamais lhe pusera as mãos.
Nos dias seguintes, Rosane enviou-lhe muitos emails com várias fotos suas, tiradas em diversas ocasiões, e com mensagens muito gentis.
Infelizmente, o coração de Paulo ficou frio.
Percebendo que ele não se sensibilizara, Rosane não mais o procurou.
Embora ela não tenha conseguido lembrar-se precisamente dele, sentira a mesma atração de outrora, enquanto ele, que nunca a esquecera, não pôde encontrar um vestígio sequer de ternura por ela no seu coração.
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