O descaso fez mais uma vítima no hospital de Maricá. Leia, abaixo, a carta desabafo enviada à imprensa oficial, de uma família que, na sexta-feira passada, dia 9, perdeu seu ente querido no Hospital Municipal Conde Modesto Leal:
“Hospital se esconde modesto leal”.
Assim deveria se chamar “aquilo” que o nosso município oferece ao cidadão
maricaense como única opção para o atendimento a milhares de pessoas que
necessitam de atendimento médico em nossa cidade.
Procuro através desta carta narrar os últimos momentos e sofrimento que
nossa família passou nesta unidade hospitalar. Somos de família muito humilde,
sem nenhuma tradição e participação política na cidade. Ocupamos maior parte do
nosso tempo, nos dedicando ao trabalho e a nossa família, que embora não seja tão
grande e influente na cidade, trabalha e tira sustento contribuindo com
impostos e com o desenvolvimento da nossa cidade já que somos profissionais da
construção civil.
Como cidadão contribuinte, me exponho com indignação pelos fatos que
irei narrar nas próximas linhas e espero que sirva de motivação para que nossas
autoridades, tomem as devidas providências de acordo com as suas competências.
No
dia 9 de março de 2012, estava em casa, quando recebi uma ligação do meu irmão,
Francisco da conceição Lins, carinhosamente conhecido como Neca, que se
queixava de fortes dores no peito. Ao chegar a casa onde ele vivia com a
família, (esposa e enteados), era aproximadamente 19 horas, percebi que deveria
leva-lo ao hospital para uma avaliação médica. Devido às condições que ele
estava, fomos de motocicleta rumo ao hospital de Maricá. E lá meu irmão entrou
andando, mas reclamando de fortes dores no peito. Ele passou pelo portão e me
orientaram que fizesse a ficha de atendimento dele. Ao terminar de preencher a
ficha na recepção, me entregaram e fui ao encontro do meu irmão, não foi
permitida a entrada na portaria. A pessoa que impediu minha entrada pegou a
ficha que estava comigo e se encarregou de entrega-la na enfermaria. Fiquei
aguardando do lado de fora com certa tranquilidade, uma vez que meu irmão
entrou andando e naquele momento já estava recebendo o atendimento médico no
Hospital municipal de Maricá. Permaneci ali do lado de fora por mais ou menos
40 minutos e de repente veio uma senhora lá de dentro que acompanhava um
paciente e perguntou pelo meu nome e disse que meu irmão queria falar comigo. O
porteiro desta vez não impediu meu acesso e fui ao seu encontro. Quando cheguei
ao local onde os pacientes são medicados, vi meu irmão sentado em uma cadeira reclamando
de fortes dores no peito e me pedindo ajuda. Tive a sensação de que ele estava
abandonado naquele lugar e perguntei se o médico já o teria atendido, ele me
disse que a avaliação do médico tinha sido de insuficiência respiratória.
Fiquei assustado, pois se este era o diagnóstico e ele realmente tinha
dificuldades de respirar, por que apenas lhe foi aplicado uma injeção e nenhum
outro procedimento foi adotado?
Quando falei com a enfermeira perguntando por que meu irmão estava
largado ali, ela reclamou dizendo que ele não estava largado, tinha sido
medicado e estava em observação. Contrariado e impotente perante as informações
da enfermeira, voltei até o meu irmão, vendo o desespero em que ele estava e
atendendo o seu pedido, sai para procurar o médico que havia lhe prestado o
primeiro atendimento. Rodei pelo hospital e não o encontrei. Perguntava aos
funcionários pelo nome dele e ninguém sabia me informar. Lembram-se daquela
ficha que fui obrigado a preencher, pois é ela sumiu assim como o médico.
Talvez o Doutor tivesse a levada com ele, pois afinal de contas já se
aproximava do horário da passagem do plantão. Meu desespero aumentou, pois além
de não encontrar o médico que deu o primeiro atendimento ao meu irmão, não
consegui falar com nenhum outro, se quer tínhamos a informação oficial do
quadro em que ele se encontrava para que o próximo plantão desse continuidade
ao atendimento. Tenho duvidas inclusive
se ele realmente foi avaliado por um médico de fato ou apenas por um
estagiário. Sem ter sucesso na minha procura por ajuda, retornei ao local onde
estava o meu irmão e lá vi o quadro dele piorando minuto após minuto. Não
queria enxergar a realidade, mas vi ali sangue do meu sangue, padecendo e eu
impotente perante o desenrolar destes fatos. Num ato desesperado, sem conseguir
falar direito, meu irmão me segurou firme e disse que não iria aguentar esperar
mais. Esta foram às últimas palavras que ouvi da boca do meu irmão, que
imediatamente, entrou em estado convulsivo nos meus braços. Foi à cena mais
horrível e marcante que não quer mais sair da minha cabeça. Eu estava ali,
segurando meu irmão, impotente, inerte, sem chão, humilhado, envergonhado por
ter sido incapaz de conseguir fazer algo por ele. Foi impressionante como em um
passe de mágica, tantos médicos apareceram. Uma pena que já era tarde demais.
Aos 36 anos de idade meu irmão se tornou mais uma vitima da péssima
administração da saúde de Maricá.
Ao
escrever esta carta, demonstro minha resignação e peço aos vereadores que tomem
medidas cabíveis, pois a vocês cabem o dever de fiscalizar, legislar e punir.
Eu pergunto a cada um de vocês. O que tens feito pela saúde do nosso município?
As promessas que tenho ouvido de que novos investimentos acontecerão na saúde
com criação de um novo hospital e da UPA não mais adiantarão para o meu irmão e
para as outras centenas de vítimas do descaso que aconteceram ao longo dos
tempos. E mais uma vez deixo uma pergunta para a reflexão dos senhores. Será
que realmente vocês tem feito o de melhor pela nossa saúde? Por que então a
impunidade persiste?
Alguns aqui foram criados com a nossa família e tenho o maior respeito
pela nossa amizade. Agradeço ao vereador Ronny que no momento de dificuldade
nos ofertou com uma ajuda financeira de R$ 100,00 que completou nossas despesas
com as flores, uma vez que fui informado de que a funerária não mais tem
convênio com a prefeitura e por este motivo estaríamos impedidos de receber o
auxílio funeral que é um direito do cidadão e da minha família que se enquadra,
perfeitamente neste perfil.
Graças a outro amigo da família que é genro do Secretário de ação
social, o Castor, tivemos assegurados o direito ao caixão e a vaga no
cemitério. A família arcou com custos adicionais por conta dos traslados do corpo
que foram pagos a funerária. Mas sinceramente, esta não é a ajuda que
esperávamos dos nossos representantes.
Espero que todos os vereadores busquem realmente a verdade dos fatos do
que aconteceu neste episódio obscuro e ajam de forma exemplar com os culpados,
para que sirva de exemplo e outras famílias não venham sofrer o que nós estamos
sofrendo mais uma vez em nossa família. Já que esta é a segunda vez que
perdemos um membro da família de forma prematura, que entrou no hospital
andando e saiu dali para o cemitério.
A minha indignação nos últimos dias tem se tornado em força para tomar a
atitude de escrever esta carta e gostaria que as autoridades tomassem as
devidas providências para que este episódio não tenha continuidade em nossa
cidade. Hoje estive em contato com um deputado que se comprometeu em levar o
caso para a ALERJ, estive na delegacia de Maricá, onde ao conversar sobre o
caso com o delegado foi confeccionado o registro ... que será encaminhado ao
Ministério público.
Alguns contatos foram encaminhados para imprensa e para o governo do
estado.
Espero que aqui nesta casa, tenhamos a maior ação em respostas a estes
fatos, pois aqui, além de nossos representantes temos alguns amigos pessoais
que inclusive, convivemos durante a infância.
Queremos ver a justiça acontecer, e que os culpados sejam realmente
punidos de forma exemplar para que as coisas mudem na saúde de nosso município.
Se isto acontecer estaremos mais aliviados e teremos um pouco mais de
tranquilidade.
Pensem nisso, pois a próxima vítima deste descaso pode ser você, um
amigo ou um parente.
João Paulo da Conceição Lins e Genecy da Conceição
Lins
Aproveito para externar meus sentimentos a família. Como amigo pessoal da vítima e da família, buscamos orientá-los e pedir a Deus o consolo que somente ele pode dar. Parabenizo a família pela coragem, pois se todos nós que sofremos ou presenciamos um destes descasos teriamos contribuído para que estes episódios não continuasse fazendo vítimas em nosso município. Realmente este é um caso de polícia e felizmente a omissão e recusa do médico do hospital em assinar o óbito, forçou a família a buscar auxílio polícial para que o corpo fosse para autópsia no IML em Itaboraí, e isso proporcionou a família uma abertura de investigação policial. Conversamos com o delegado de Maricá que está aguardando agora o parecer do IML e irá coletar os depoimentos da familia. Nós amigos e os familiares esperamos que os culpados apareçam e sejam punidos de forma exemplar. Pois se existe alguma forma de mudaresta realidade ela tem que começar através de ações populares. EStas movimentações no face são muito importante e servirão inclusive como peças para a avaliação judicial. Vocês não tem noção da força que nossas postagens tem. Não imaginam como podemos fazer muito mesmo sem ter mandatos. Precimaos apenas de inteligência, conhecimento jurídico e articulação estratégica e politica para começarmos um processo de mudança em nossa cidade. Que é difícil, mas não impossível e depende de cada um de nós. "JUNTOS SOMOS FORTES!"
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