Relatório final da polícia brasileira sobre a morte de Rosalina Ribeiro revela erros e segredos da investigação


12/01/2012 - São 79 páginas que relatam todos os pormenores da investigação da polícia brasileira ao homícidio de Rosalina Ribeiro, em Saquarema, no Brasil. O relatório do inquérito da equipa 'Saturno 46', da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a que a revista "Visão" teve acesso exclusivo, revela vários aspetos do crime que eram, até agora, desconhecidos publicamente.
O ex-líder parlamentar do PSD foi rotulado pela polícia de "nervoso e arrogante", depois de ter sido questionado ao telefone - 40 dias após a morte de Rosalina -, para esclarecer alguns dados do relato que havia enviado por fax.A tese sustentada pela polícia brasileira, após 22 meses de investigação e 23 inquiridos, aponta claramente Duarte Lima como homicida de Rosalina Ribeiro, "em virtude de interesses financeiros". Os testemunhos de Olímpia Feteira, herdeira de Lúcio Feteira, e Armando Carvalho, afilhado de Rosalina, foram peças-chave na conclusão que Duarte Lima terá assassinado a mulher de 74 anos, até porque a arma do crime nunca foi encontrada.
Na noite do seu desaparecimento (7 de dezembro de 2009, que a polícia assume como a noite da morte da mulher, ainda que a certidão de óbito aponte o dia 8 de dezembro como o dia da morte), Rosalina tinha encontro marcado com Duarte Lima no restaurante de luxo Alcaparras, a 350 metros da sua residência, de acordo com o que a própria contou a amigas. Contudo, as câmaras de videovigilância da zona nunca registaram a presença da mulher, que desapareceu sem deixar rasto.

Um 'fantasma' chamado Gisele


Duarte Lima confirmou que se tinha encontrado com Rosalina nessa noite, mas apenas para levá-la a Maricá, ao Hotel Jangada, para alegadamente se encontrar com uma mulher chamada Gisele, que estaria relacionada com assuntos da venda da parte de Rosalina da herança Feteira.
A polícia procurou corroborar a história de Duarte Lima mas falhou clamorosamente, pelo que concluiu que o ex-deputado havia mentido. Nenhum dos amigos de Rosalina Ribeiro havia ouvido falar de uma mulher chamada Gisele e as agendas da amante de Lúcio Feteira - descrita como uma "pessoa metódica, anotando praticamente tudo sobre qualquer pessoa que conhecia" - também não faziam qualquer referência ao nome. No Hotel Jangada, ninguém se lembrava de qualquer uma das mulheres.
No apartamento de Rosalina, a polícia encontrou dois comprimidos em cima da mesa da sala, os telemóveis da mulher e ainda um bilhete no qual escrevia que iria regressar a Lisboa no dia 12 de dezembro. Os investigadores concluíram, então, que Rosalina planeava chegar a casa cedo naquela noite, e não deslocar-se à cidade de Maricá, como havia afirmado Duarte Lima.

"Surtos de amnésia" de Duarte Lima


Confrontado pela polícia, o ex-deputado não conseguiu explicar estas (e outras) incongruências na sua história, tendo sido afetado por "surtos de amnésia", de acordo com o relatório, citado pela "Visão".
Para a brigada 'Saturno 46', Duarte Lima tinha apresentado uma versão dos acontecimentos falsa e era cada vez mais suspeito, nomeadamente pelas sete multas de excesso de velocidade que colocaram o seu carro na zona onde Rosalina foi morta, na véspera e no dia do assassinato da mulher.

Testemunhos de Olímpia Feteira e Armando Carvalho convenceram polícia


Os indícios sobre a culpa de Duarte Lima levaram a polícia a inquirir sobre a motivação do advogado. De acordo com o relatório, foi o testemunho de Olímpia Feteira (que, inicialmente, era uma das suspeitas, mas foi rapidamente riscada da lista, dada a sua disponibilidade em colaborar com a polícia) que esclareceu o móbil do crime.
A filha de Lúcio Feteira tinha processado Rosalina, em Portugal, "por desvio de vultuosas quantias das contas de seu falecido pai". Grande parte dessas quantias teriam alegadamente ficado na posse de Duarte Lima, "o orientador da manobra", de acordo com as autoridades brasileiras que, no entanto, nunca pediram aos homólogos portugueses quaisquer informações sobre o processo.
Foi o testemunho de Armando Carvalho, afilhado de Rosalina, que selou a tese policial. Armando Carvalho contou aos investigadores que a madrinha estava melindrada com a insistência de Duarte Lima em que ela assinasse um documento que dizia que o advogado nada devia a Rosalina "nem era depositário de qualquer quantia".
Quando regressasse a Portugal, Rosalina Ribeiro teria de "prestar esclarecimentos" sobre as "milionárias transferências efetuadas para diversas contas" - incluindo alegadas contas de Duarte Lima -, no âmbito de um inquérito do DIAP. "Caso tivesse ocorrido tal depoimento, Domingos Duarte Lima teria sérios problemas", conclui o relatório.
Fonte: Mariana Cabral (www.expresso.pt)

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