“Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, inclusive tudo que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau”.
Uma reunião peemedebista, ocorrida semana passada no colégio Iara Queiroz, vinha sendo pomposamente noticiada como a reunião do ano do “Sr. Volta que eu Voto”. O nome do ex-alcaide seria referendado como o ator principal do PMDB municipal para o pleito do ano que vem.
Como há muito tempo vinha fazendo, o “Sr. Volta que eu Voto” soprou aos quatro ventos que toda a cúpula do PMDB estadual estaria aqui para prestigiá-lo e dar-lhe a credibilidade necessária diante do povo, diga-se de passagem, abandonado em seu último mandato. Infelizmente para si, a tragicomédia não saiu como queria o, até agora, prefeito mais processado da história de Maricá.
O governador Sergio Cabral não veio. Após participar da inauguração de “quiosques” em cidade da Região dos Lagos, deu carona ao deputado Paulo Melo em um de seus seis helicópteros comprados com dinheiro público, e meteu o pé. Um mês após efetuar a compra do sexto aparelho aeronáutico por aproximadamente R$ 11 milhões, o governador abre licitação para compra de sua sétima máquina voadora, agora pela bagatela de R$ 17 milhões. Estranho ver uma licitação aberta tão rapidamente para um bem de “extrema necessidade”, enquanto a licitação para as câmeras dos carros recém-comprados para a polícia militar não foi realizada por falta de tempo hábil. Os fofoqueiros de plantão apressaram-se em afirmar que Cabral tinha um compromisso bem mais interessante: Uisquinho e uma rodada de pôquer com o “amigo” Cavendish.
O vice-governador Pezão não veio. Após a queda do prefeito de Teresópolis por desvio de recursos públicos direcionados para a reconstrução de um dos municípios mais atingidos pela tragédia serrana, descobriu-se que tudo estava sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Obras Públicas, vinculada ao Sr. Pezão. Estranhamente, as investigações sumiram dos noticiários televisivos. O Sr. Pezão deve estar, logicamente, evitando aparições públicas, ao menos até a próxima tragédia.
O presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, não veio. Mesmo com a afirmação de alguns de que a reunião estava agendada, Picciani não deu as caras. Dizem as más línguas que Picciani estaria em pé de guerra com Cabral por ter sido vergonhosamente traído pelo governador. Picciani, apesar da campanha milionária, perdeu feio a luta pela vaga ao senado. O governador apoiou escancaradamente o candidato petista, Lindberg Farias, numa clara atitude do “primeiro eu”, muito comum em seu histórico. Picciani também teria motivos para não prestigiar o ex-alcaide, pois o que se sabe é que o termo “Sapo Papudo” foi exaustivamente usado em Maricá. Por outro lado, Picciani pode ter se programado para algo bem mais empolgante na noite em questão, como o show de Justin Bieber. Peraí... Quaquá não apoiou Picciani?
Ao contrário dos aspones, dependentes da boquinha política para a própria sobrevivência, os figurões, atolados em suas próprias preocupações, e sabendo que os aspones assim o fazem porque “o que tem parte com o ladrão é o seu próprio inimigo; sendo ajuramentado, nada denuncia”, talvez tenham tido uma ponta de juízo e procurado um afastamento do pseudolíder que sofre um congestionamento de processos investigativos na duvidosa responsabilidade fiscal de sua gestão.
Após tantos processos aqui apresentados, mais um se faz obrigatório. Desta vez apresentaremos o INQUÉRITO CIVIL de nº 243/2011, datado de 21/09/2011. Eis aqui o “Sr. Volta que eu Voto” aprontando mais uma das suas. O Ministério Público abre outro processo de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA & LESÃO AO ERÁRIO contra o ex-alcaide. Uma irregularidade apurada pelo TCE/RJ no processo nº 242.928-0/2008, em relação ao contrato nº 12/08, celebrado entre o citado e a Empresa RSI de Maricá Comércio de Produtos Alimentícios Ltda., que consiste em contratação de preços acima dos praticados no mercado. Um legítimo Ministro de Eucaristia não tem o direito de esquecer que existe uma “orientação superior” no sentido de “não torcerás a justiça... Não tomarás subornos, pois o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos”.
Contrariando todas as regras do bom-senso, o deputado Paulo Melo veio. Este caso merece ser analisado mais atentamente. O interessante é que, ao referendar o nome do “Sr. Volta que eu Voto”, o deputado desferiu pesadas palavras em direção ao atual alcaide, posicionando-se claramente como oposição ao atual governo. A única dúvida ficou na ausência de posicionamento público, muito esperado, em relação a Jorge Castor e Robson Dutra, entre outros, que apoiam o PT local. Por que nada foi dito em relação a isso? O que realmente estaria por trás da ausência de pesos-pesados exaustivamente anunciados? Por que não foram anunciadas as devidas punições aos indisciplinados? Nada justificaria Paulo Melo ter dedicado seu precioso tempo para mostrar apoio àquele que passou a vida inteira direcionando-lhe todo seu veneno. Será que Paulo Melo sabe que foi acusado de fazer parte da máfia das ambulâncias? Será que Paulo Melo sabe que foi acusado de ser um “sanguessuga”? Que tal tirar essa dúvida com Robson Dutra?
Essa história só pode ter uma explicação plausível... Em Saquarema, seu domicílio eleitoral, Paulo Melo vem sofrendo uma série de reveses desde a eleição passada, quando perdeu nas urnas, mas tomou no tapetão. A partir daí, sua popularidade vem literalmente descendo morro abaixo. Se dentro de seu próprio reduto as coisas não andam boas, em Araruama, com apoio incondicional do prefeito, Paulo Melo sofreu uma de suas maiores derrotas políticas de todos os tempos. O atual deputado estadual Miguel Jeovani teve uma vitória tão esmagadora, que até hoje a ferida não cicatrizou. Diante de perdas tão significativas, Paulo Melo precisa fincar os pés em algum lugar para voltar a mostrar força diante de seus adversários e seus próprios pares. O lugar escolhido seria Maricá. Esta nova escolha do deputado nos leva a crer que ele estaria abrindo mão de seu orgulho pessoal em troca de uma aliança nada confiável. Pense bem, deputado... Pense muito bem.
Não há como negar que a única definição que temos frente ao quadro apresentado é a indefinição do próprio quadro. Apresentar-se como salvador da pátria diante de tantos processos (ainda temos muito a mostrar) nos leva de encontro a uma cara de pau presenciada apenas ao ouvirmos os hoje raros pronunciamentos de “Sua Alteza Marrecal”. As semelhanças não param por aí. Não temos mais dúvidas. A “latrina política” se faz presente e, ao mesmo tempo, tenta voltar. O pior é que não só nosso IPTU, mas também nossa dignidade, estão bem no meio do lamaçal. Que Deus guie os dedos desavisados em direção às urnas futuras.
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