Prisão de prefeitos cearenses acusados de corrupção ganha repercussão nacional

repercussão nacional

Os escândalos em prefeituras cearenses, com desvio de recursos públicos, fraudes em 
processos licitatórios ou na contratação de empresas fantasmas, culminaram na prisão 
de várias pessoas. 


As investigações conduzidas pelo Ministério Público Estadual (MPE), com auxílio da 
Polícia Federal, levaram prefeitos, secretários, empresários e servidores para cadeia. 
Na edição deste sábado (2) da revista Istoé, dois gestores do Ceará são citados na 
matéria: Antônio Teixeira de Oliveira, de Senador Pompeu, e Marcos Alberto Martins Torres, 
de Nova Russas.
Os dois casos foram acompanhados pelo www.tabajara.am.br, com informações 
exclusivas. Teixeira é acusado pelo MPE de desviar R$ 2,6 mi dos cofres do município, 
através de um esquema de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Contra Marcos 
Alberto existe a denúncia de que teria desviado um valor ainda maior, por meio 
de licitações e contratos fraudulentos: R$ 15 mi.
Abaixo, a matéria da revista de circulação nacional:

Prefeitos na cadeia

Aperto na fiscalização das licitações, cruzamento de dados dos contratos e maior 
transparência no repasse de verbas levam pelo menos 17 prefeitos para trás das 
grades
Alan Rodrigues, Lúcio Vaz e Luiza Villaméa
Com a prisão prestes a ser decretada, o prefeito Antônio Teixeira de Oliveira (PT), da 
cidade de Senador Pompeu, no sertão cearense, embarcou em um ônibus fretado junto 
com outros 35 acusados de participar de um esquema de corrupção no município. Depois 
de passar dez dias foragido e ter o pedido de habeas-corpus negado pelo Superior 
Tribunal de Justiça, o prefeito acabou se entregando à polícia na quinta-feira 30. Embora 
a tentativa de escapar da cadeia escolhida por Oliveira tenha sido inusitada, cenas de 
prefeitos algemados sendo conduzidos por policiais estão se tornando cada vez mais 
comuns no País.
Apenas este ano, pelo menos 17 prefeitos foram presos, acusados de fraudar licitações 
e desviar recursos públicos. “Eu ainda acho pouco”, afirma Jorge Hage, ministro-chefe da 
Controladoria-Geral da União (CGU), o órgão encarregado de fiscalizar a aplicação de 
recursos federais nos municípios. Com o aprimoramento do controle, o cruzamento de 
dados entre diferentes instituições do governo e a maior transparência do repasse de 
recursos públicos, os desvios ficaram mais evidentes.
O repasse de recursos da União para os municípios segue o modelo de transferências 
obrigatórias, previstas na Constituição – principalmente para a saúde e a educação –, 
e voluntárias, definidas livremente pelo governo federal. Num país com as dimensões 
territoriais do Brasil, o sistema tem o objetivo de democratizar as verbas públicas, mas 
enfrenta dificuldades. Mesmo assim, só neste ano a Polícia Federal deflagrou sete 
operações envolvendo prefeitos. A estimativa de valores desviados ficou em R$ 279 
milhões. Em boa parte dos casos, os policiais federais trabalharam a partir de 
irregularidades levantadas pela CGU, cujo Programa de Fiscalização por Sorteios, 
criado em 2003, já fiscalizou quase 33% dos 5.564 municípios brasileiros. “Quanto 
mais se afasta da origem dos recursos e mais se aproxima dos municípios, 
mais difícil é o controle”, avalia o delegado da Polícia Federal Josélio de Souza, 
que coordena as operações que investigam desvios de recursos públicos em
todo o País.
A forma de atuação das quadrilhas é conhecida pela Polícia Federal. Tudo passa 
por fraudes nas licitações e por superfaturamento nos contratos. Num dos modos 
de saquear os cofres públicos, a iniciativa parte do fornecedor de produtos e 
serviços, que faz a cooptação com o prefeito e depois divide o dinheiro desviado. 
No outro modelo criminoso, o próprio prefeito exige que o prestador de serviço 
fixe um sobrepreço. Na fraude à concorrência pública, o mais comum é o conluio 
entre empresas, para obrigar a prefeitura a comprar o produto por um preço acima 
do mercado. Há também situações de acordo entre todas as partes envolvidas.
Com a descentralização das verbas, os órgãos de controle público esperavam que 
houvesse um maior controle dos recursos por parte da própria sociedade. A ideia era 
que, reunidos em conselhos, pais de alunos, por exemplo, denunciassem a falta de 
merenda escolar e a baixa qualidade de carteiras e de material didático. “A expectativa 
otimista, e até romântica, de que os conselhos locais dessem conta de evitar os 
desvios se mostrou um equívoco”, afirma o ministro-chefe da CGU. Na prática, a maior 
transparência na distribuição dos recursos dificulta a vida dos prefeitos corruptos, mas 
não impede os desvios.
Para aprimorar as ferramentas de controle e investigação, a própria Polícia Federal 
precisaria criar uma unidade especializada apenas nesse tipo de crime. Atualmente, 
as fraudes contra a administração pública são investigadas pela Coordenação-Geral 
de Polícia Fazendária, que apura muitos outros crimes, como contrabando e 
sonegação fiscal. Outro entrave no combate aos desvios é o fato de os processos 
não culminarem na devolução do dinheiro desviado. “Como prevalece a presunção da 
inocência, os réus têm tantas possibilidades de recursos que os processos não 
caminham para a condenação final”, reclama o ministro-chefe da CGU. 
O delegado Souza concorda: “Se não há punição, outras pessoas se sentem 
encorajadas a praticar o mesmo crime. Há a percepção de que o Estado não está 
presente.”
A boa notícia é que, na terça-feira 28, a presidente Dilma Rousseff assinou um decreto 
essencial para a fiscalização. Agora, todas as transferências obrigatórias por lei – caso 
do SUS e da merenda escolar – só poderão ser movimentadas em contas específicas, 
por meio eletrônico, mediante crédito na conta do fornecer ou prestador de serviço. 
“Acabou o saque na boca do caixa”, comemora o ministro-chefe da CGU. Ao mesmo 
tempo, a presidente prorrogou por 90 dias o decreto de liberação dos restos a pagar 
de 2009. São recursos de obras que já estavam contratadas, mas havia faltado 
dinheiro para a execução. Com a medida, os prefeitos ganham mais R$ 3 bilhões 
para fazer pequenas obras nos municípios. E os auditores e policiais, mais objetos 
de investigação.


Fonte: Ceará Agora

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