O ninho tucano maricaense

Prof. Adilson Pereira 


     Durante todo o atual processo pré-eleitoral, um caminhão de palavras foi jogado ao vento. Muitos posicionamentos precipitados foram tomados e muitos partidos políticos, segundo alguns fanfarrões, estavam em posse de uns poucos donos.
   Uma chapa se formou prematuramente, mostrando imaturidade e falta de conhecimento político. Na maioria das vezes, tal fato ocorre porque os que se dizem líderes políticos se deixam levar pela orientação de qualquer um que se apresente como conhecedor da causa. Um erro fatal, digno daqueles que não têm onde se agarrar, muito menos noção do caminho a seguir.
   Apresento a “chapa crente”. Aos críticos de plantão, deixo claro que não existe tom discriminatório nem efeito pejorativo na nomenclatura. Chamamos assim quando dois evangélicos se unem por um fim político. Erroneamente, desconsideraram uma cidade onde as maiores festas são a de Nossa Senhora do Amparo, nitidamente católica, e a de São Jorge, onde os tambores de umbanda e candomblé ressoam por toda a noite em homenagem a Ogum, num sincretismo religioso bem comum aos normais. Como assessores tão bem remunerados deixaram escapar um detalhe tão básico? Para evitar maiores embaraços à chapa, não citarei o segmento GLSBT nem o movimento “Maconha Já”.
   Após andarem pela cidade anunciando a posse de quase todos os partidos existentes, colocando-se como os únicos com possibilidade de concorrer contra o indesejado alcaide, eis que a chapa se rompe. O lado que detinha maior força, inexplicavelmente, estava na parte de baixo da coligação. O ex-governador Anthony Garotinho, com tanto prestígio no município, não poderia ser tão mal utilizado. Aí estava o elo fraco. Mais uma mostra de, no mínimo, falta de bom senso. Uma perda que dilacerou as entranhas falastronas que, como num passe de mágica, trataram de sumir das ruas. Quem sabe, os aspones “vianenses” e “travilíneos” estavam apenas interessados na estrutura de campanha de vereador herdada do então candidato a vice, pouco se importando com o bem provável insucesso da chapa. Aliás, um vice bem habituado ao fracasso.
Quando todos achavam que e hemorragia já estava quase impossível de ser contida, vem a notícia de mais uma alteração no projeto, se é que existia algum. O anúncio de transferência para um partido recém-fundado causou nova surpresa. A surpreendente mudança de planos cairia como uma luva diante dos motivos anunciados: “forte ligação política com a nova legenda e, principalmente, uma estrutura de dar inveja aos adversários”. Boa tacada, não fosse uma “mentirinha inofensiva”...
   Os novos modelos de gestão se renderam ao programa televisivo bem elaborado do empresário Roberto Justus, que premiava aqueles que mais se adaptavam à competitividade do mundo moderno. Os que ficavam pelo caminho ouviam a conhecida frase: “Você está demitido!”. Quem tem um mínimo de experiência no mundo corporativo sabe que uma demissão sumária pode causar muita dor aos projetos mais sólidos. Para manter viva a chama, basta “pedir demissão antes de ser demitido”.
   Seguindo os rumos políticos da nova onda feminina, baseados na vitoriosa “presidenta” (que não foi “adolescenta” nem “estudanta”), Maricá abre os olhos para mais uma figura feminina de impressionante poder. Aqueles que se permitirem levar apenas pelo estereótipo de sexo frágil serão pegos desprevenidos pela linguagem direta e objetiva de quem já está bem acostumada às conversas das mais altas rodas. Com grande vivência no senado federal, nossa personagem é nada mais, nada menos, que esposa de um grande nome da política nacional. Um líder tucano, que hoje age nos bastidores com força equitativa aos marombeiros repletos de testosterona. Ex-ministro da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Jorge é o atual vice-presidente nacional do PSDB. O mesmo que venceu a queda de braço com o mensaleiro José Dirceu, colocando-o para sangrar durante um ano e meio antes de ter sua “carteirinha” de sócio do PT Futebol Clube suspensa e ficando literalmente no “sereno”.
   Com a chegada da nova personagem, Sra. Lídice Caldas, nascida em Maricá (ao contrário do antecessor), filha de Zeca Cunha, ex-vereador e presidente da câmara municipal, o tucanato maricaense, mesmo sem confronto proposto pela personagem em questão, entrou em polvorosa. Mesmo que sua intenção fosse puramente montar o “PSDB Mulher”, emprestando sua imagem e prestígio e, consequentemente, colaborando com o partido, acharam que estava por chegar um enorme “Jatobá” que poderia fazer sombra no pequeno “Bonsai”. O chororô podia ser ouvido a quilômetros de distância. Mais um duro golpe rachando as bases já desorientadas dos falastrões que se diziam donos do cenário, do jogo e também da maioria dos partidos existentes no mundo.
   Para evitar a frase de Roberto Justus, o pedido de demissão, encenado na pseudo-empolgação de melhores condições de trabalho do partido embrionário, foi uma fajuta tentativa de evitar desgastes e traumas no já combalido grupo. Como afirmar melhores condições em algo que ainda nem existe? Caso a assessoria não tenha percebido, o que não seria nenhuma surpresa, a afirmação de transferência e fotos públicas com lideranças de outra legenda, por si só, já configura infidelidade partidária. Sem contar o chefão de um dos partidos que chamou seus aspones “no ovo”, garantindo que não existem fechamentos políticos tão antecipados, deixando a seguinte ordem: negociar com todos!     
   Desta forma, o que parecia certo passou a incerto e terminou como inexistente. A “chapa crente”, além de deixar de ser chapa, perdeu completamente o que restara de sua fraca identidade. Fica visível como a política se faz terrível para os que se acham “os terríveis”, sem os ser. Palavras absurdas e vazias se perdem com extrema facilidade na fragilidade travestida de arrogância. O sistema só pede que sejamos simples mortais. Então, sejamos! Simples assim.

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