Prof. Adilson Pereira
Há exatos dois anos e meio, um professor cumpriu a promessa de promover uma revolução política. Uma tomada de poder jamais vista na história do município. O nobre professor assumiu o executivo municipal apoiado por seus fiéis escudeiros, contaminando-se com o vírus da autossuficiência. Aquele que não reconhece suas limitações é imaturo o suficiente para se sentar no trono da verdade e atravessar as portas da ruína.
O orgulho gera muitos filhos, entre eles a dificuldade de reconhecimento dos erros e a necessidade compulsiva de estar sempre certo, tornando difícil encontrar alguém intelectualmente atraente e interessante neste novo modelo governamental. Neste caso, para tornar-se atraente é necessário maquiagem, dar colorido às palavras e gestos, utilizando-se do ardil, do logro e da encenação midiática a serviço da desinformação. O gênesis dava mostras de como seria o apocalipse.
Durante a pré-campanha, noticiaram uma pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas. O intuito era formar 31 profissionais aptos a construir um projeto de governo revolucionário, com mestres da incontestável excelência de: Fábio e Vítor Iório, Claudio Gurgel, Rogério Rocco, Silvana Rodrigues, Luiz Motta, Marcelo Bárcia e Gilberto Estrela. Tive sorte de lecionar na mesma instituição onde “facilitadores do aprendizado” deste quilate transmitiam conhecimento à turma de felizardos.
O projeto, batizado de “Programa de Governo Participativo”, foi montado estabelecendo várias metas, entre elas: “Implantação do modelo educacional cubano” e “Médico da família, ao estilo cubano”, deixando Guevara desesperado no túmulo; “Novo hospital Conde Modesto Leal” e “Postos de saúde 24h”, brincando com nossas vidas; “Cinco pólos de ensino profissionalizante com Bolsa Escola”, com caderneta de poupança de R$100 para cada aluno; “Companhia Municipal de Transportes Públicos”, com ônibus novos a cada vinte minutos; “Rodoviária na estrada”, em algum ponto distante do infinito; “Estágio remunerado para universitários”, e otários; “Reurbanização de toda a orla marítima e lacustre”, quem sabe em Nova Iguaçu ; “Voltar a pescar ‘acará’ no rio Mumbuca”, custe o que custar; “Transformar Maricá numa referência nas artes e na cultura popular”, no Brasil e no exterior; “Criação de um banco municipal” para apoiar iniciativas de cooperativas e microempresas populares, disponibilizando empréstimos de R$20 mil por empreendimento, só não contavam com a ‘Mumbuca’; “Criação da Escola de Gestão Pública Municipal”, para capacitar os incapazes comissionados; “Atração de empresas e geração de empregos”, mesmo com secretário investigado na fraude da refinaria de Manguinhos e seus bens indisponibilizados pela Polícia Federal (Sereno neles!); as piadas do século: “Funcionários da Multiprof com carteira assinada” e “Sessenta quilômetros de calçamento e drenagem nos dois primeiros anos de governo”. Recuso-me a comentar teleféricos, trenzinhos, carruagens e a promessa de recuperação urbana de todos os distritos com materiais de construção comprados numa lojinha de eletro-eletrônicos em Niterói.
Por onde andam os 31 formandos desta pós-graduação (médicos, engenheiros, professores, biólogos, psicólogos, assistentes sociais)? Teria partido deles a contratação da Engebio, da Delta, da Fortestone, da Eco 805? Ou a nomeação dos Bilés, das Helenas, dos Delgados, dos Alexanders, dos Fatigatis e das Zeidans? Seriam eles os responsáveis pelas mortes no hospital municipal, pelo cataclisma que assola Itaipuaçu ou pelas vaias que ecoam por toda a cidade? Talvez não. Talvez os “engenheiros de ideias”, como já é de costume neste (des)governo, sejam responsáveis por projetos maiores, como a chegada do homem à lua e a bomba de Hiroshima. Onde estão os construtores da revolução social que destrói a cidade, que nos leva ao constrangimento diante dos municípios vizinhos e ao cenário político mais vergonhoso da história? Será que suas famílias já utilizaram a saúde pública local? Peço-lhes que se apresentem à municipalidade. Não temam. Justifiquem-se junto ao povo. Mostrem seus ideais, seus próximos passos, seus projetos vindouros. Ao que parece, a melhor opção é o silêncio e o sepulcro do esquecimento.
Falta um último detalhe à manobra, pois é nos pequenos detalhes que temos a exata dimensão de uma tragédia. Quem eram os coordenadores desta fanfarronice sem precedentes? A primeira, Dra Janete Valladão, ex-secretária de saúde de Maricá e Conselheira Municipal de Saúde. Sua presença no Conselho talvez explique o hospital de primeiro mundo, os funcionários motivados, o cidadão valorizado e satisfeito, os medicamentos abundantes, a aparelhagem de última geração, o quadro técnico altamente qualificado, a esterilização autorizada pela Vigilância Sanitária, a renovada frota de ambulâncias e a atuação dos melhores farmacêuticos. Na verdade, considerando a desprezível contribuição desta senhora ao município, não perderei meu tempo tecendo comentários a seu respeito. O segundo, Sr Sady Bianchin. Dizendo-se “Doutor em Teatro e Sociedade”, foi secretário de cultura no início da atual gestão. O mesmo que, juntamente com Andréia Cunha e Carlinhos Soares, foi escorraçado pelo alcaide numa verdadeira caça aos incompetentes de plantão. Dá para entender o porquê deste projeto já ter nascido no obituário.
Parabéns! O movimento que deu origem ao atual coma social, montado pelos digníssimos “engenheiros de ideias” e apoiado por 36.000 desavisados, fez aniversário. Todos os governantes anteriores deveriam juntar-se às comemorações. O resultado de suas políticas amadoras e vexatórias levou à necessidade de mudanças e à consequente vitória da catástrofe. O atual vice-prefeito não seria o anteriormente chamado “ladrão de areia” pelo atual prefeito? O pai do presidente da câmara não era chamado de “ladrão do dinheiro da ponte”? Não foi no último governo que a cidade foi às páginas policiais? Uma mixórdia que só será resolvida quando aceitarmos que “os políticos e as fraldas devem ser trocados constantemente, e pelo mesmo motivo”.
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